Morte e Morrer em redes sociais
A prática do Luto interativo no Facebook de Bousso.R.S et.al, é um trabalho apresentado no Simpósio em tecnologias digitais e sociabilidade, em Salvador, nos dias 10 e 11 de outubro de 2012. Tratase de um estudo qualitativo, utilizando a Etnografia virtual e a análise de conteúdo. Para este foram analisados 195 comentários postados no perfil do usuário falecido durante o primeiro mês da morte, este, um senhor de 88 anos com 5184 amigos, judeu, casado, pai de dois filos, trabalhava na área da educação e sua postagem havia sido seis dias antes de seu falecimento. O trabalho foi submetido à avaliação do Comitê de Ética.
Com está análise foram identificados diferentes sentimentos ao longo das semanas, além de emoções diversas, indicadores de estratégias de enfrentamento do luto, crenças religiosas, homenagens e relato da sua experiência com o luto. Pode-se relacionar as falas encontradas com as fases do luto, visto que em primeiro momento frases de negação e surpresa foram postadas no perfil, com o passar de um mês, mensagens saudosas e homenagens passaram a ser as mais frequentes. Contudo, dentro deste um mês que foi avaliado observou-se que conforme os dias passavam, a frequência de mensagens foi reduzindo.
Este estudo demonstra o avanço das tecnologias da informação e da comunicação em todos os campos do saber. Mostra a utilização da rede social Facebook pelos enlutados durante a morte de um ente querido ou um conhecido e como se passa a comunicação durante o processo de luto. Podendo transformar o perfil da rede social em um memorial e servindo como uma ferramenta que aproxima e permite que os amigos se reconfortem da perda entre eles.
Dentro da comunicação virtual entre os familiares e amigos deste usuário foi possível identificar quatro categorias temáticas:
Expressar reações emocionais e cognitivas à morte: negação ou aceitação da morte do falecido. Os comentários são direcionados ao falecido ou ao público, sem indicar uma conversa com o amigo morto. “Querido professor, fiquei muito triste quando soube de seu falecimento...” “Como assim?” “Ele está feliz agora encontrando-se com sua amada...”
Manter-se conectado ao falecido: manter-se conectado com o falecido por meio de mensagem, manifestando admiração, relembrando momentos vividos com o falecido, demonstrando a importância do falecido em sua vida, dizendo adeus e pedindo que o falecido ilumine os que ficarão. “Professor amigo, querido...” “Obrigada por tudo mesmo...” “Deixará saudades” “Perdi um grande mestre”.
Divulgar homenagens, eventos e agradecimentos: os familiares postam os comentários e mensagens. “Descanse em paz tio” “Convidamos a todos para um Shabat Especial em memória ao Prof...” “Gostaria de agradecer a emocionante homenagem...ao meu pai...”
Expressar condolências aos familiares: frases protocolares de condolências aos familiares, expressões menos formais, frases religiosas e espiritualizadas. “Meus sentimentos...” “Nosso carinho para a família” “Que HaShem console todos os seus familiares” (HaShem, Deus no judaísmo).
O autor faz uma discussão com base em cada uma das temáticas descritas a cima, comentando sobre os comentários, a naturalidade e frequência que eles ocorrem. Traz que o luto é o processo normal e esperado de elaboração psíquica e enfrentamento da vivência de perdas significativas, que implica a transformação e ressignificação da relação com o que foi perdido. Além da importância de ter um cuidado atento e sensível ao enlutado, promovendo empatia, continência e não crítico, pois o enlutado poderá continuar a sentir-se solitário em sua dor.
Os resultados deste estudo trazido pelo autor permitem afirmar que os sites de redes sociais online podem facilitar o enfrentamento ao luto, pela liberdade de expressão e por oferecer uma oportunidade de interação que ajudam a refletir sobre sua relação com o falecido e suas próprias emoções, transformando o luto de um espaço privado para um espaço público.
Opinião crítica:
Em uma sociedade onde é comum ignorar ou evitar falar sobre morte, as redes sociais são grandes aliadas de pessoas que passam pelo processo do luto. São nesses locais onde as pessoas sentem mais liberdade de falar sobre o tema e expressar os seus sentimentos. O apoio e suporte proporcionado pela aproximação das pessoas é um fator essencial para o enfrentamento do luto, o saber que outras pessoas também estão sentindo falta desta pessoa amada, que partiu, faz com que se torne possível dividir esta carga.
Concordamos com os autores e o que trazem em seu artigo, como este ainda é um tema considerado TABU para a sociedade as redes virtuais tornam-se grandes aliadas para que a sociedade converse sobre e desmistifique aos poucos esta temática. Porém, por se tratar de locais de acesso público, é de fundamental importância que também se dê privacidade aos familiares, cuidados com as postagens e suas repercussões, para que o luto privado possa ser também mantido.
Visto que, o assunto sobre morte é de extrema importância para a humanidade, deveriam haver mais pesquisas sobre este assunto nas universidades, pois seria uma forma de conhecer fatos consideráveis sobre a finitude, bem como reduzir preconceitos e oportunizar parentes e profissionais de saúde para um bom enfrentamento dessa realidade.
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