domingo, 15 de maio de 2016

Acadêmicas: Adriane Kappes, Bruna Bueno, Jéssica Colombo, Paola Forlin

Morte e Morrer em redes sociais

  A prática do Luto interativo no Facebook de Bousso.R.S et.al, é um trabalho apresentado no Simpósio em tecnologias digitais e sociabilidade, em Salvador,  nos  dias  10  e  11  de outubro  de  2012.  Trata­se  de  um  estudo qualitativo,  utilizando  a Etnografia  virtual  e  a análise  de  conteúdo.  Para  este foram  analisados  195  comentários  postados  no  perfil do  usuário  falecido durante  o  primeiro  mês  da  morte,  este,  um  senhor  de  88  anos com  5184 amigos, judeu, casado, pai de dois filos, trabalhava na área da educação e sua postagem  havia  sido  seis  dias  antes  de  seu  falecimento.  O  trabalho  foi submetido à avaliação do Comitê de Ética.
  Com  está  análise  foram  identificados  diferentes  sentimentos  ao  longo das  semanas, além  de  emoções  diversas,  indicadores  de  estratégias  de enfrentamento  do  luto, crenças  religiosas,  homenagens  e  relato  da  sua experiência com o luto. Pode-­se relacionar as falas encontradas com as fases do luto,  visto que em primeiro momento frases de negação e  surpresa foram postadas  no  perfil,  com  o  passar  de  um  mês, mensagens  saudosas  e homenagens  passaram  a  ser  as  mais  frequentes.  Contudo, dentro  deste  um mês  que  foi  avaliado  observou-se  que  conforme  os  dias  passavam, a frequência de mensagens foi reduzindo.  
  Este  estudo  demonstra  o  avanço  das  tecnologias  da  informação  e  da comunicação em todos os campos do saber. Mostra a utilização da rede social Facebook  pelos enlutados  durante  a  morte  de  um  ente  querido  ou  um conhecido  e  como  se  passa a comunicação  durante  o  processo  de  luto. Podendo transformar o perfil da rede social em um memorial e servindo como uma  ferramenta  que  aproxima  e  permite  que  os  amigos se  reconfortem  da perda entre eles.
  Dentro  da  comunicação  virtual  entre  os  familiares  e  amigos  deste usuário foi possível identificar quatro categorias temáticas:
Expressar  reações  emocionais  e  cognitivas  à  morte:  negação  ou aceitação da morte do falecido. Os  comentários  são direcionados ao falecido ou  ao  público,  sem indicar uma  conversa  com  o  amigo  morto.  “Querido professor,  fiquei  muito  triste quando soube  de  seu  falecimento...”  “Como assim?” “Ele está feliz agora encontrando-se com sua amada...”
Manter-­se  conectado  ao  falecido:  manter-­se  conectado  com  o falecido por meio  de mensagem,  manifestando  admiração,  relembrando momentos vividos  com o falecido, demonstrando a importância do falecido em sua vida, dizendo  adeus  e  pedindo que  o falecido  ilumine  os  que  ficarão.  “Professor amigo, querido...” “Obrigada por tudo mesmo...” “Deixará saudades” “Perdi um grande mestre”.
Divulgar homenagens, eventos e agradecimentos: os familiares postam os  comentários e  mensagens.  “Descanse  em  paz  tio”  “Convidamos  a  todos para  um  Shabat  Especial em  memória  ao  Prof...”  “Gostaria  de  agradecer  a emocionante homenagem...ao meu pai...”
Expressar  condolências  aos  familiares:  frases  protocolares  de condolências  aos familiares,  expressões  menos  formais,  frases  religiosas  e espiritualizadas.  “Meus sentimentos...”  “Nosso  carinho  para  a  família”  “Que HaShem console todos os seus familiares” (HaShem, Deus no judaísmo).
  O autor faz uma discussão com base em cada uma das temáticas descritas  a  cima, comentando  sobre  os  comentários,  a  naturalidade  e frequência que eles ocorrem. Traz que o luto é o processo normal e esperado de  elaboração  psíquica  e  enfrentamento  da vivência  de  perdas  significativas, que implica a transformação e ressignificação da relação com o que foi perdido. Além  da  importância  de  ter  um  cuidado  atento  e sensível  ao  enlutado, promovendo  empatia,  continência  e  não ­crítico,  pois  o  enlutado poderá continuar a sentir-­se solitário em sua dor.
  Os resultados deste estudo trazido pelo autor permitem afirmar que os sites de redes sociais on­line podem facilitar o enfrentamento ao luto, pela liberdade de expressão e por oferecer uma oportunidade de interação que ajudam a refletir  sobre  sua relação  com o falecido e  suas próprias emoções, transformando o luto de um espaço privado para um espaço público.

Opinião crítica:
  Em uma sociedade onde é comum ignorar ou evitar falar sobre morte, as redes sociais são grandes aliadas de pessoas que passam pelo processo do luto. São nesses locais onde as pessoas sentem mais liberdade de falar sobre o tema e expressar os seus sentimentos. O apoio e suporte proporcionado pela aproximação das pessoas é um fator essencial para o enfrentamento do luto, o saber que outras pessoas também estão sentindo falta desta pessoa amada, que partiu, faz com que se torne possível dividir esta carga.
  Concordamos  com  os  autores  e  o  que  trazem  em  seu  artigo,  como  este ainda é um tema considerado TABU para a sociedade as redes virtuais tornam-se grandes aliadas para que a sociedade converse sobre e desmistifique aos poucos esta temática. Porém, por se tratar de locais de acesso público, é de fundamental  importância  que  também  se  dê privacidade  aos  familiares, cuidados  com  as  postagens  e  suas  repercussões,  para que  o  luto  privado possa ser também mantido.
  Visto  que,  o  assunto  sobre  morte  é  de  extrema  importância  para  a humanidade, deveriam  haver  mais  pesquisas  sobre  este  assunto  nas universidades, pois seria uma forma de conhecer fatos consideráveis sobre a finitude, bem como reduzir preconceitos e oportunizar parentes e profissionais de saúde para um bom enfrentamento dessa realidade.




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